terça-feira, 7 de maio de 2013

Epifania.



A  voz da consciência já estava muda, não tinha mais voz, não tinha mais força para gritar “pare de fazer isso com você”, o tal de amor a cegou, amarrou as mãos, acorrentou os pés,  não pensava e não queria saber de mais nada, foi ai o erro, foi ai o devaneio, a luxuria, a desordem, a bagunça no seu coração e na sua vida, ainda era alimentada pelo amor, mas não sabia definir o que fazia ficar ali ainda, seria muito obvio culpar as correntes, a cegueira, não sabia dar o motivo real de estar dando os murros em pontas de facas, talvez nunca soube, talvez somente agora sentiu uma leve dor na mão, na alma, talvez só agora resolveu retirar a venda que a impedia de ver a luz, talvez parou por um minuto e colocou na balança o custo x beneficio,  e não, não estamos falando de um produto, quero dizer, de um produto qualquer, estamos falando de uma peça rara, pesada, longa,  de tirar o sono, a fome, o juízo, quanto vale? Até onde compensa? Quais as alegrias, as alergias, qual o peso das correntes, o quão apertado fica suas mãos, ao atar nessa corda? Você nunca sabe esses valores, você vai metendo a cara, vai passando por cima de todos, de tudo, vai enfrentando Deus e o mundo, porque há uma voz lá no fundo te incentivando cinicamente a continuar, por uma coisa que você não sabe se vai se dar bem, não há consciência nesses momentos, ela está bem longe, tomando uma dose com a razão, mandando você se foder, e você abraça a tempestade de areia que te seduz e diz Tchau, segura pelo braço e rodopia de acordo com ele, solta sorrisos bobos, conta as horas para ver de novo essa bagunça boa aparecer , faz planos impossíveis, ri deles por seres tão sutis e saudáveis, mal sabe ela.... O tal de amor se vai, do mesmo jeito que chegou, só não tira as correntes, as cordas, te faz o observar de outro modo, de uma maneira mais torta, mais triste, mais agressiva, mas você ainda não o culpa, não vai culpar alguém que lhe proporcionou momentos tão incríveis e únicos, você não é rude assim igual sua consciência, você ainda tem a companhia da senhora esperança, que te incentiva a dar mais um murro na faca que essa tempestade de duvidas aponta pra você, e você murra, uma, duas, três, quarto  vezes, e está tão anestesiada de amor que não sente dor, não sente as laminas, não escuta todos rindo de você, volta a não sentir fome, volta a perder o sono, enquanto a consciência espera você ter uma outra epifania, outra crise dos cinco segundos, desejando que você acorde mais disposta a mudar, a testar facas menos cortantes...

E se for só um sonho?

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