A voz da consciência já
estava muda, não tinha mais voz, não tinha mais força para gritar “pare de
fazer isso com você”, o tal de amor a cegou, amarrou as mãos, acorrentou os
pés, não pensava e não queria saber de
mais nada, foi ai o erro, foi ai o devaneio, a luxuria, a desordem, a bagunça
no seu coração e na sua vida, ainda era alimentada pelo amor, mas não sabia
definir o que fazia ficar ali ainda, seria muito obvio culpar as correntes, a
cegueira, não sabia dar o motivo real de estar dando os murros em pontas de
facas, talvez nunca soube, talvez somente agora sentiu uma leve dor na mão, na
alma, talvez só agora resolveu retirar a venda que a impedia de ver a luz,
talvez parou por um minuto e colocou na balança o custo x beneficio, e não, não estamos falando de um produto,
quero dizer, de um produto qualquer, estamos falando de uma peça rara, pesada,
longa, de tirar o sono, a fome, o juízo,
quanto vale? Até onde compensa? Quais as alegrias, as alergias, qual o peso das
correntes, o quão apertado fica suas mãos, ao atar nessa corda? Você nunca sabe
esses valores, você vai metendo a cara, vai passando por cima de todos, de
tudo, vai enfrentando Deus e o mundo, porque há uma voz lá no fundo te
incentivando cinicamente a continuar, por uma coisa que você não sabe se vai se
dar bem, não há consciência nesses momentos, ela está bem longe, tomando uma
dose com a razão, mandando você se foder, e você abraça a tempestade de areia
que te seduz e diz Tchau, segura pelo braço e rodopia de acordo com ele, solta
sorrisos bobos, conta as horas para ver de novo essa bagunça boa aparecer , faz
planos impossíveis, ri deles por seres tão sutis e saudáveis, mal sabe ela....
O tal de amor se vai, do mesmo jeito que chegou, só não tira as correntes, as
cordas, te faz o observar de outro modo, de uma maneira mais torta, mais
triste, mais agressiva, mas você ainda não o culpa, não vai culpar alguém que
lhe proporcionou momentos tão incríveis e únicos, você não é rude assim igual
sua consciência, você ainda tem a companhia da senhora esperança, que te
incentiva a dar mais um murro na faca que essa tempestade de duvidas aponta pra
você, e você murra, uma, duas, três, quarto vezes, e está tão anestesiada de amor que não
sente dor, não sente as laminas, não escuta todos rindo de você, volta a não sentir
fome, volta a perder o sono, enquanto a consciência espera você ter uma outra epifania,
outra crise dos cinco segundos, desejando que você acorde mais disposta a
mudar, a testar facas menos cortantes...
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